By Simone Intrator

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Paulão

Sempre estudei de manhã. Mas quando chegava sábado e domingo, eu pedia pra ele me acordar às 6h, para juntos irmos à padaria. Aquela mão enorme dada com a minha, pequenina, é das melhores sensações que guardo. Foi ele que inventou meu apelido Sipa. Que me apresentou aos LPs que marcaram a minha vida e…

Amo ser mãe. Não gosto de Dia das Mães

Quando eu era pequetita, se algum dia eu fui pequetita (sempre a mais alta e a mais gorducha), sonhava em ser mãe de quatro. Como meu pai tinha uma Belina amarela placa ZV-2732, eu sempre me imaginava tendo uma igualzinha para encher de filho e viajar pelo Rio. Só teria uma diferença: o rádio funcionaria.…

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Redescobrindo a Chapada, agora com eles, numa outra viagem

Era o ano de 1993, talvez você nem tivesse nascido. Eu só queria saber de viajar, fazer mais amigos, viver grandes aventuras e conhecer lugares onde não havia turistas convencionais. Por isso, eu e minha turma fazíamos tudo a pé. Travessia Petrópolis-Teresópolis; travessia Aldeia Velha-Lumiar; travessia Itatiaia-Mauá; travessia Andaraí- Lençóis. É sobre esta, na Chapada…

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Curtinha

Estávamos na Barra da Tijuca, eu e minha amiga Ana Cristina, amizade de tempo recente e intimidade antiga. Nos conhecemos na Pós-graduação em psicopedagogia, que fazemos juntas no Pro-Saber. Rumo ao trabalho de grupo, numa quinta-feira chuvosa e bem fria, fria pra carioca e pra europeu também, paramos num sinal. Veio o menino, pé descalço,…

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O menino dos olhões

Esta história que vou contar aconteceu há muito tempo. Há uns 20 anos. O nome dele começava com W. Esqueci se Watson, Wellington, Wagner, Walter… Vocês não vão me perdoar por este esquecimento depois que eu contar a história. Nem eu me perdôo. Trabalhava como estagiária na Campanha Nacional pela Reforma Agrária, no Ibase, ao…

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Ternura

Fiz um novo amigo dia desses de março. D., 22 anos, com deficiência intelectual, morador de uma comunidade na Zona Sul do Rio. Vive sozinho com o irmão de 23 anos, também deficiente intelectual. Foram abandonados pela mãe, doente mental. Ele me contou que todos os dias apanha de alguém de morro. Já tomou uma…

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2015, o difícil e maravilhoso renascimento

2015 foi um ano difícil. Difícil e maravilhoso, se isso é possível. Dia 8 de janeiro, saí do emprego. Já queria isso há tanto tempo… E aí, quando aconteceu, paniquei! Paniquei de não conseguir comemorar, de paralisar. Não viajei em janeiro, pensando só em economizar. Não aproveitei nada o meu primeiro mês de liberta. Nem…

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Disseram que eu voltei americanizada

Terminei a página 516. Meu livro chegou ao fim, depois de nós na garganta, soluços, reflexões, choro. Depois de torcer para cada sinal fechar e demorar para abrir e eu ganhar breves minutos de leitura. Depois de me apaixonar e torcer pela história de amor de Ifemelu e Obinze, nomes africanos tão pouco comuns nas minhas leituras. Depois de buscar em cada página algum conforto para a questão do racismo – e não encontrar. “Americanah” (Companhia das Letras), da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, ganhou diversos prêmios (merecidamente) por abordar temas nada cômodos com ousadia e sensibilidade: a questão racial nos…

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A segunda parte é a melhor

Assisti no Netflix ao filme “A vida de outra mulher”, com Juliette Binoche. A história fala de Marie, uma mulher que se perdeu dela mesma, e quando acorda um belo dia não se lembra dos últimos 15 anos que viveu. Não se reconhece na grande e fria executiva que se tornou. E ainda guarda na memória o amor pelo marido — de quem está se separando — como no primeiro dia em que se encontraram. Chorei. Será que não é isso que fazemos com nossas vidas? Acordamos sem nos reconhecermos naquela pele, naqueles atos, naqueles medos que embolam tudo. Marie…

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Pipas no céu de Santa

W, 14 anos, é o segundo filho de uma amiga, que tem mais três meninos. Moram todos numa casinha em Santa Teresa. Ela  trabalha como cozinheira de um escritório. W queria sair da escola no meio do ano e parar de estudar. Me ofereci para conversar com ele e ver se eu poderia de alguma maneira ajudá-lo. Marina, minha filha de 13 anos, várias vezes também desejou sair da escola. Rodrigo, 9 anos, idem. Ele porque sempre quis ser jogador de futebol e achava que para isso precisava treinar e treinar e não ficar dentro de sala de aula. Marina porque…