Foi sem motivo importante que pensei em tirar do vocabulário os pronomes possessivos. Surpreendeu-me como tudo cresceu quando disse apenas “O jardim é tão bonito” e não “O MEU jardim é tão bonito”. Magicamente passaram a ser belos todos os jardins e também o meu, como de fato são porque guardam as marcas de uma…
Pelo mundo, conectadas e compartilhando
By Beatriz Dale
Camiseiro
“Mãe é tudo igual”, dizem. Pai deve ser diferente. Mãe vai virando na gravidez e enquanto espera o bebê ficar pronto entende que o caminho tem curvas e ladeiras, mas a vista de uma aventura sem igual. Pai vira no susto, mas entende rápido que nesse ofício, um par de mãos extras são condição para…
A casa que voa
Três famílias vizinhas partiram este mês. A notícia encolheu o coração de quem ficou. Foi gente que viveu em Dubai quase uma década, e agora arruma as malas com o dinheiro da rescisão do contrato no bolso e a angústia do expatriado que volta para o país que não chama de casa. Com a pandemia…
Ilha enamorada de mim
Bali não te abraça. Te testa. É que nem homem safado. Que te chama, te beija, depois te larga e não liga. Só que é homem de cangote cheiroso, daquele tipo gostoso, que te chama de novo… de novo… de novo. Ilha-homem joga comigo mas, meu amigo… Não vês que também sou caprichosa? Tu me…
Nosso Ceilão
A escolha do destino para as férias aqui em casa sempre passa pelo filtro inicial que descarta uma série de destinos prováveis. É preciso haver natureza, um certo descompromisso e estranheza, aventura. Esta peneira filtra as capitais e nos leva ao interior, ou a países exóticos que talvez jamais visitássemos se não fossem tão perto daqui. Esse primeiro parágrafo me parece um tanto vencido para publicar no blog em setembro, peço desculpas. Ainda assim, não pude deixar passar em branco a experiência deste verão. Ao Ceilão que trataram de mudar o nome para Sri-Lanka, fomos todos. Na mala levei a…
Endereço incompleto
Comum aqui é voltar pra casa no verão. O novo comum. Porque nunca chamei julho de verão. Nem tenho mais casa no Brasil. Se em “casa” as apresentações vem seguidas das amizades que se tem em comum, ou referências ao trabalho, a ordem aqui é o país de origem e o tempo de moradia. Me cansa o protocolo, a repetição, mas não vejo saída. Junto da nacionalidade de alguém vem a forma como você a cumprimentará dali em diante, a interpretação caricata de sua família, cultura, educação e o pacote. Na metade do ano seus “novos velhos amigos de infância”…
Vai se f*&#!
Da vaidade eu sei. Minha amiga legítima, porque somos sinceras uma com a outra. Às vezes a gente se estranha, briga e eu faço com ela o mesmo que com os filhos, só que a eles digo que sentem na escada para pensar e para ela, boto mesmo de castigo. Não falo dela que me mostra…
Hiato
Di-a Pa-ís Idei-a. Quantos hiatos cabem em quinhentos e trinta e dois dias vividos aqui? Quanto neste país cabe de mim? Me falta ideia. O ano da chegada é embaçado na montanha que se desmonta diariamente em caixotes para desfazer. É de reconhecer semelhanças com o que era familiar antes. É de procurar azeite Borges,…
Same shit.
Antônia chora porque perdeu o par ou ímpar. João chora porque quer dormir na minha cama. Eu choro de cansaço. Pedro chora escondido Cuca grita pra chorar Marília chora de saudade Carlos chora com jazz. Regina chora com carinho. Tarsis chora e sai de fininho. Gabriela chora pela filha. A filha chora por ela. Cada lágrima…
Fora
Fui criança que sobe, que corre, que cai. Era como todas menos porque tinha um “cantinho”. Ficava entre a parede e o piano branco que hoje pensando, deveria estar nela encostado. Talvez não estivesse por isso mesmo. Ali morava com várias de mim. A que sobe. A que corre. A que cai. Tinha a bochecha quente, o pescoço de brotoeja, pés sempre descalços e encardidos, mas piolho não tinha. Nem medo de bicho, nem nojo de minhoca. Era no silêncio do cochilo dos meus pais que via lágrimas de açúcar a escorrer do pinheiro, formigas subindo nervosas pelo graveto enfiado…