Mãe aos 40
É sempre aquela mania de dar opinião na vida dos outros. Outro dia, estávamos um grupo de mães do colégio tomando uma esperada cervejinha, enquanto a molecada corria feliz pelo parque, quando começou o assunto idade. A mais nova tinha 32. Então, todas fizemos as contas e comentamos espantadas:
“- Mas você foi mãe muito nova! Com 28 anos!”
A moça ficou até sem graça. E fiquei pensando em como os papéis se inverteram nas últimas décadas. Minha mãe, com 28 anos, já tinha três filhas. Era o normal. Mas agora se olha com espanto, e até com certo preconceito, ser mãe antes dos trinta. Cada vez mais, as mulheres vão adiando a maternidade para o momento em que já tenham uma certa estabilidade profissional e financeira. Junte a isto o fato de que encontrar um companheiro com quem compartilhar esta aventura não é exatamente fácil, o certo é que é cada vez mais comum, pelo menos aqui na Espanha, que a maternidade cheque perto ou passado dos 40 anos. No meu caso, Hugo nasceu quando tinha 39 e Carol, perto de completar 41.
Como não vivi o “ser mãe” com 20 e poucos, não posso opinar sobre se as mães mais “maduras” são mais sábias ou não. Se tenho mais paciência agora ou menos energia para correr atrás da molecada. Não tenho com que comparar. A maternidade veio no momento que estava preparada para ela, independente da idade. Mas claro que este “atraso” conta com suas problemas. A primeira é a questão biológica: uma dificuldade maior para engravidar. Não é, obviamente, sempre assim, cada caso é um caso, mas é comum. Tão comum que em uma cidade como Zaragoza, com 700 mil habitantes, tem seis clínicas especializadas em reprodução assistida. Uma “indústria” cada vez mais rica. Agora está na moda, por exemplo, mulheres que decidem congelar seus próprios óvulos para serem usados em um momento mais oportuno e assim garantir uma procriação sem problemas. Enfim, um campo para ricas discussões sobre bioética.
Mas não existe só a dificuldade para engravidar. Às vezes me assusto com minha diferença de idade e de geração para com a dos meus filhos. Já sei que cada vez vamos viver mais tempo, que as condições de vida atual nos dão uma expectativa de vida cada vez mais alta (na Espanha, 86 anos para as mulheres), mas não deixo de temer a possibilidade de deixar meus filhos sem que eles tenham uma vida totalmente independente. Um medo bobo, já sei, mas mães bobas são assim.
Também temo um abismo geracional. Que não esteja a altura para acompanhar todas as mudanças tecnológicas e comportamentais que vão vir por aí. O mundo está mudando cada vez mais rápido e, seguramente, meus filhos terão uma vida de adolescentes e de adultos bastante diferente da minha. E isto que me considero uma pessoa antenada e aberta. Mas por exemplo, deixei de ver a série Gilrs por preguiça de acompanhar vidas tão imaturas. Um mundo cada vez mais distante. Mas terei que abrir mais ainda a cabeça para compreender este novo universo que será apresentado quando chegue a vez deles.
Claro que também tem coisas boas ser mãe quarentona. Estar em paz com minhas escolhas é a principal. Saber que já fiz um montão de coisas que queria no trabalho e na vida pessoal. E não me entendam mal. Não me sinto velha, como se a vida já tivesse passado. Como se tudo de bom tivesse ficado atrás. Longe disso! Sinto-me em um novo começo e isto dá uma enorme energia. E me sinto com a tranqüilidade de pensar: “isto já fiz, não preciso mais, posso tentar fazer outra coisa”. Entender que o tempo é algo mais que precioso: é nosso maior tesouro. Se tivesse sido mãe quando trabalhava 12 horas diárias em um jornal, teria perdido o tempo maravilhoso de brincar com os meninos.
Mas como escrevi no começo, o mais importante é não olhar com preconceito as mães novas, velhas, modernas, antigas e tantas e tantas outras. Somos mães quando os filhos chegam na nossa vida. E viva este momento!