Na estrada
Há três semanas estou virando a chave.
De um lado para o outro, tentando estar conectada com os meninos, mas também em busca de novas conexões na vida em outra cidade. Não é simples, nem corriqueiro. Quando você muda de país, de cultura, de alguma forma você rompe os vínculos, corta, encerra para recomeçar. Não adianta, mudar é um recomeço. Quando você volta, depois de meses e muitos quilômetros distante, você não é mais o mesmo. E nem quem ficou.
Mas e quando você está nesse longe-perto, nesse bate-volta de 15 em 15 dias? Você mais estica a corda do que rompe. Nas últimas três semanas, também não sou mais a mesma. Nem eles. Mas quem somos? Como estamos?
Perder o convívio diário com os filhos é cruel. Mas também tem o lado bom, não serei hipócrita. Não reclamo mais diariamente das toalhas jogadas no banheiro, não tenho que pedir para pararem de jogar PS4, para abaixarem o som do que estão ouvindo mesmo com headphones ou para não usarem o celular à mesa. Não tenho que ficar nas amplas negociações dos horários de volta das festas ou das casas de amigos.
Mas também não tenho mais o sonolento café da manhã e nem os papos a caminho da escola. Não posso mais dar aquela checada maternal quando todos estão dormindo e você vai lá ver se estão respirando (sim, você vai continuar fazendo isso) e nem me espantar com o tamanho dos ex-bebês na cama. Não sei o que estão estudando, o que comeram, se comeram. Não ouço mais os comentários sobre a escola, as namoradas, os amigos, as fofocas.
Fantasiei que seria possível falarmos todos os dias. Afinal, a tecnologia está aí, estamos sempre conectados. Balela. Nunca estão juntos ou disponíveis ao mesmo tempo. O máximo é o grupo no whatsapp, mas mesmo assim há sempre algum delay nas respostas. Falo com um, não conecto com o outro. Alguém responde uma mensagem três horas depois. Uma coleção de hiatos.
“Ah, mas vocês podem se ver nos finais de semana”, alguém lembra.
Sim, nos vimos nos últimos três. Mas o convívio nos finais de semana é curto. Ou melhor, “isso é convívio?” como disparou o mais velho na lata, argumentando que não ia dormir na casa da avó num dia em que só consegui chegar no Rio às 23h.
Angústia. Você está ali e sabe que é fugaz, tem prazo de validade, hora para virar abóbora. E quando começa o “É Fantásticooooo” você já começa a sofrer com a volta e pensar em tudo o que queria ter feito e não fez.
O saldo ainda é de um vácuo. Mas o aprendizado eu já entendi que será o viver o agora, porque é o que temos. Essa é a minha estrada hoje.