Comer e Beber
Dizem que quando você muda de país a última coisa com a qual se adapta é com a comida. Mas isso deve ser em outros lugares, a comida espanhola além de saborosa e saudável é, segundo quem entende do assunto, a verdadeira responsável pela enorme expectativa de vida dos espanhóis (85 anos para as mulheres, 80 para os homens). Enfim, foi bastante fácil me acostumar. E não dá nem para sentir saudade do feijão preto porque graças à globalização a gente encontra no supermercado de frente de casa. Como também dá para comprar cerveja e guaraná brasileiros, coentro e já descobri um açougue que vende picanha. E se a saudade é mais específica, tem as lojas dos sulamericanos que vendem farinha de mandioca, goiabada, polvilho para o pão de queijo e, meu ponto fraco, paçoquinha. As únicas coisas que nao dão para comprar são as frutas tropicais: manga (ah!!! manga!!), abacaxi (ai!!! que saudade), banana prata (os espanhóis têm o plátano de canárias que eles pensam que é bom), água de coco, etc. Mas enfim, as frutas daqui também são maravilhosas, então, dá-lhe cerejas, morangos, pêssegos, tangerinas, ameixas…
Com um marido espanhol e filhos que nasceram aqui, em casa fazemos uma mistura das duas cozinhas. Tem arroz com feijão e arroz com lentilhas, tem moqueca e tem paella. Tentamos que as crianças comam de tudo um pouco, algumas vezes com mais sucesso que outras. Mas para a nossa sorte os dois são boas bocas. Reclamam quando vêem verdura, mas comem. Mas se tem aspargos e gazpacho, melhor, eles amam.
A única coisa que realmente nao me adaptei são aos hábitos à mesa. Servir primeiro e segundo prato. Aqui em casa é tudo de uma vez mesmo. E com o que mais demorei a me acostumar foi com a quantidade de horas sentados nos almoços festivos, reuniões familiares ou de amigos. Um espanhol pode perfeitamente sentar para comer às 14h e levantar às 17h30. Primeiro servem o aperitivo, depois o primeiro prato, o segundo prato, a sobremesa, os cafés (que cada um tomará de uma maneira, nao existem dois espanhóis que tomem café do mesmo jeito) e a copa (em bom “português” um drink). Tudo regado por vários vinhos maravilhosos e bom papo. Bom, né? Sem dúvida, mas mais três horas sentados confesso que me custou. E agora com as crianças é impossível. No final dos aperitivos eles já desceram da mesa. Eu e Nacho vamos nos revezando para poder comer e nos acostumamos a não terminar as conversas. Mas qual a mãe que nao se acostuma a isso?
Outra coisa que estranho é que o número de convidados e o número de cadeiras à mesa tem sempre que ser iguais. Não existe convidar, por exemplo, para uma feijoada e cada um sentar onde der: no sofá, num banquinho, até mesmo no chão. Aqui é impensável. Como também é impossível o hábito brasileiro de convidar para um churrasco às 13h e às pessoas chegarem às 15h. Aqui todos estarão na hora marcada e esperarão o ritual dos pratos. Já aprendi que se os brasileiros não são maioria, é melhor não lutar contra os hábitos locais, afinal, são os últimos com os quais verdadeiramente nos adaptamos.
Rosane, somos vizinhas inclusive nos hábitos alimentares. Portugal tem boas semelhanças com Espanha. Só sinto falta das croquetas ;-).
Menina, qual é o tamanho das salas de jantar aí? Aqui, se eu chamar mais um casal, a mesa lota. Para fazer um jantar de aniversário com todos sentados, ia ter que alugar um salão de festas. Entendo a angústia que deve dar, ver as horas passando, com tanta coisa a fazer, mas tb é tããão legal poder comer com toooooda a calma da vida…
Uma vez fui a um almoço de casamento em Cascais. Eram OITO pratos!!! Eu e uma amiga abandonamos o almoço, fomos ao centro de cidade conhecer. Quando voltamos ainda iam servir as sobremesas!!!
Pois é, Raquel, aqui em casa só podemos convidar quatro no máximo. A sorte que o resto da família tem sala grande.
Adoro esses longos almoços, principalmente no verão, com a mesa no jardim e as super paelhas. Mas no inverno dá um pouco de angústia sentar para comer e levantar quando já está escurecendo. Sensação de não ter feito nada…mas são parte fundamental da socialização.
Imagino a saudade que você deve ter de manga. Mas, como você disse, as frutas daí também são muito boas. Esse negócio de primeiro e segundo prato é realmente chato. Quando fui à Itália, às vezes eu queria comer somente um bom prato de macarrão, mas, nos restaurantes em que fui, macarrão era o primeiro prato. Pouco demais pra uma refeição. Ou muito se você pedir o segundo prato.
Melhor comer os “menus”, são mais baratos e as quantidades dos primeiros e segundos pratos são menores. Às vezes peço dois primeiros, a salada e o macarrão. É muita comida mesmo!